29 de maio de 2011

Autópsia


Você já deve ter sofrido por amor, já deve ter se ferido numa desilusão porque não enxergou quem a pessoa era desde o início. É sempre mais reconfortante pensar que seria melhor nem nascer, mas uma vez nascendo, o sofrimento afetivo é o pedágio da vida. Todos passam por isso. Morremos a cada segundo, como uma pilha de pétalas sendo atravessadas por uma agulha negra.

Mas você já se sentiu como um rato de laboratório? Um bichinho fofo, peludo e pequeno à mercê dos experimentos mais dementes e excessivos de alguém? Como, por exemplo, ter seu minúsculo coraçãozinho arrancado pra fora do corpo e vê-lo pulsando na mão de unhas sujas de uma pessoa babando de insensatez sem o menor pudor de deixá-lo cair?

Eu não sabia que era possível naufragar em salivas, do contrário teria tomado mais precauções com frases e atos contradizentes. O primeiro marcando minha existência poética, e o segundo desmarcando esperados encontros como quem descarta comida azeda.

Eu já joguei sim, desconversei, fiz cena. Sem isso são grandes as chances de ser rejeitado de cara. Mas se dei a entender que eu não passava de um brinquedo, peço perdão, me expressei errado. Agora ouço canções que a maioria das pessoas detesta e não posso passar as faixas românticas, pois perdi o manual de instruções do aparelho de som no meu ouvido interno. Quando estiver mal sempre que puder conte com seus amigos, mas quando isso for impossível ouça música, elas são um ombro e tanto.

Você acha bonito e divertido fazer todo mundo de idiota? Sério, você se orgulha de ser assim? Pra você é muito fácil apenas não atender telefonemas enquanto floresce em cada uma de suas presas a muda do ressentimento e humilhação, que lá na frente produzirá as maiores sombras frígidas. Você nem ficará sabendo.

É fácil seguir em frente pra quem não tem razões pra olhar pra trás, pra quem não tem visão periférica ou mesmo o costume de olhar os lados alheios. E não venha chamar isso de escudo. Tornar-se uma pessoa sórdida pra se defender do mundo é como escapar de um assassino no topo de um prédio. E depois jogar-se de lá.

Mas tanto faz. São apenas anotações de quem deu o ego a abater e precisa lembrar o momento exato em que o pulso começa a latejar. Foi só mais um alguém que se aproximou ofertando uma maçã numa mão com a foice da paixão na outra. Quantos pedaços você precisa juntar, quando alguém esquarteja um meio-amor? Não sei, não quero fazer a conta, vou guardar forças pra pagá-la em todas aquelas prestações de resguardo, descrença e reflexão, quando a gente faz uma espécie de autópsia sentimental - vivo e sem anestesia.

Pelo menos até a anunciação do próximo ciclo de vida (e, quem sabe, morte). É assim, tudo que não gera felicidade, degenera, morre na impermanência. Nem pra sempre, nem nunca mais.

24 de maio de 2011

Amor - Um rio sem correnteza


O amor é como um rio sem correnteza,
Que sem alarde, desliza no seu destino.
Assiste a cada encanto da natureza
E o que de triste vê, recebe como ensino.

Durante todo o percurso vê diferenças.
Algumas delas, corrige com braços d'água.
E quando vê que as cicatrizes são imensas
Segue seu curso tentando afundar a mágoa.

E assim os dias vão passando em nossa história...
O que sentimos, nos corrigindo a memória,
Saboreando a beleza do que vivemos...

Como num rio, sou as águas! Tu, a margem!
Se me embruteço os teus limites me espargem.
A fauna e a flora precisam que nos amemos.

19 de maio de 2011

Amigos

Em comemoração aos mais de 1000 acessos eu vou variar um pouco, não vou postar algo que fale sobre amor nas relações entre os amantes.

Mas, vou continuar falando de amor, um amor mais puro ainda, que nasce na convivência, amor de amigo.

Esse vai pra todos vocês, amigos(as), os que me incentivaram, os que me chamaram de emo, os que me zuaram nos comentários, os que questionaram o "sucesso" do blog, os que hoje são janelinhas que sobem no msn, mas foram parte importante na minha vida, os que só vejo no facebook ou no email. Pra todos vocês, irmãos(ãs).


Narração de Amigos

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.

A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!

Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências... A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.vEsta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.

Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí, e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu oro pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha oração é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente, os que só desconfiam - ou talvez nunca vão saber - que são meus amigos!

A gente não faz amigos, reconhece-os.

Vinícius de Moraes

17 de maio de 2011

O que não é amor


Amar jamais será a serenidade plena
Acobertada com a aparência de virtude.
Jamais será a nostalgia vil, terrena
Causando a doce impressão da quietude.

Jamais será amar... render-se à disciplina,
E enquadrar a própria alma aos estatutos,
E tranformar o coração em oficina
Onde ferrugens, podres, morsas, são ocultos!

O que se faz para iludir os convidados,
Na tentativa vã de tê-los, dominados
Com falsos brindes, falsos olhos, falsos risos...

Jamais será amar de fato, de verdade,
Renunciar a dor, e dar-se à falsidade,
E ser mais um na multidão dos indecisos

14 de maio de 2011

Paixão é uma coisa que acontece


Eu me nego iniciar um namoro sem uma metáfora, sem uma canção, sem um apelido, sem paixão. Eu jamais construiria um relacionamento sem um alicerce avassalador, sem magia, sem labirinto, sem códigos, sem poesia. Para mim, o envolvimento - prefácio do amor - parte sempre do primeiro encontro, nunca do décimo oitavo. Mas falo por mim, um clichê ambulante de barba por fazer. Uma metralhadora de emoções de camiseta de filmes cults e calça jeans.

Tenho meus regimentos, não fujo deles com medo da caretice, do machismo, da queda posterior. Eu fujo de amores que não começam como num conto de fadas. Mas isso sou eu, apenas eu. Associar paixão com doença, assujeitamento, cólera, pensar socraticamente os relacionamentos, precaver o tombo, o corte, o fim de cada etapa, tudo me soa como um turista, até que enfim na Disneylândia, porém com diarreia.

Vejo isso como "falta de preparo para lidar com a situação que a vida que impõe". A paixão - gasolina do trajeto - não é algo que se pede, que se procura, que se compra. A vida dá, conforme os movimentos, a habilidade de identificar, o preparo para sentir, a resiliência de todos seus "amores" fracassados. Não somos nós quem construímos o amor, não temos esse poder, é ele quem nasce, cresce e se desenvolve onde as terras são firmes e férteis.

Somos presas, nunca predadores. Por isso a caça é tão inútil. Mas não, queremos estar no controle, acreditamos somente em tudo que podemos ver, tocar, ler. Somos amantes dos laços, do estado civil, da condição. Geralmente nunca do amado em si. Falhamos e não aceitamos seus mistérios, suas virgindades, seus contos de fada. Não aceitamos os riscos, esta é a verdade. Rechaçamos a perda, o desencanto, a rejeição.

As pessoas mudam, a relação pula de fase, as fantasias se renovam. O vício de controlar, de petrificar o amor, de estatizar a relação, nos faz flagelados das mudanças. O amor é movediço, traiçoeiro, perene e, ainda assim - ou mesmo por esta razão - é belo, perturbador, vivaz.

Há beleza em todas as etapas, basta ver além dos olhos, se contentar com o que o destino não previu, sentir-se confortável com a escassez de controle. O amor não é a moldura, mas o que a tinta desenhou sobre a tela. Note, a tela continua linda mesmo sem a sisudez da moldura. Por isso, o amor não se dá pra todos. Poucos aceitam a arenosidade.

Ok, a paixão é um vislumbro estético, uma deformação visual, a parte lúdica do todo. Mas me apresente uma relação real, concreta, tátil, certa. Haverão faces ocultas, imprevisibilidade, cegueira, cerração. A escuridão não é exclusividade da paixão.

Negá-la, temê-la, desviá-la é o maior erro. Não aproveitar os contos de fada é a maior estupidez. A paixão adoece e morre no amanhã, todos sabem. Mas o que é a vida, senão viver cada coisa que acontece?

13 de maio de 2011

Máximas 2


Esta rua é tão estreita que as pessoas mal cabem, andam em procissão, devagar, bem devagar. Ninguém morreu, nem é dia de santo, não se ouve nenhuma voz, nenhum sino toca. No entando o coração ainda tem esperança que jorrem as fontes.

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A mulher mais bonita que eu conheço não é nenhuma miss, nem atrái tantos olhares quando passa por aí. A mulher mais bonita que eu conheço nem acha que é bonita, acha graça e não acredita quando eu digo que a acho bonita. A mulher mais bonita que eu conheço não precisa fazer nada para parecer bonita, ela simplesmente sorri e quando sorri ela é a mulher mais linda do mundo!

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O amor é como uma borboleta, quanto mais você a persegue mais ela se afasta, mas se você para de persegui-la ela vem e suavemente pousa em sem ombro.

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Não sei se a vida é maior do que a morte, mas meu amor por vc é maior do que ambas...

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Há apenas quatro questões na vida: O que é sagrado? De que é feita a alma? O que vale a pena ser vivido? Qual é o motivo pelo qual vale a pena morrer? A resposta é a mesma para todas: apenas o amor.

10 de maio de 2011

She

Uma das músicas mais realistas e ao mesmo tempo mais românticas que eu já tive o prazer de ouvir:

SHE - ELVIS COSTELLO

She / Ela
Maybe the face I can't forget. / Pode ser a face que não consigo esquecer
A trace of pleasure or regret / Um traço de prazer ou arrependimento
Maybe my treasure or the price I have to pay. / Pode ser meu tesouro ou o preço que tenho que pagar.

She maybe the song that summer sings. / Ela pode ser a música que o verão canta
Maybe the chill that autumn brings. / Pode ser o arrepio que o outono traz
Maybe a hundred different things / Pode ser centenas de coisas diferentes
Within the measure of a day. / Ao decorrer do dia

She / Ela
Maybe the beauty or the beast. / Pode ser a bela ou a fera
Maybe the famine or the feast. / Pode ser a fome ou o banquete
May turn each day into a heaven or a hell. / Pode tornar cada dia em um céu ou um inferno

She may be the mirror of my dreams. / Ela pode ser o espelho dos meus sonhos
A smile reflected in a stream / Um sorriso refletido numa corrente
She may not be what she may seem / Ela pode não ser o que parece
Inside her shell / Dentro de sua concha

She who always seems so happy in a crowd. / Ela que sempre parece tão feliz na multidão
Whose eyes can be so private and so proud / Cujos olhos podem ser tão secretos e tão orgulhosos
No one's allowed to see them when they cry. / Ninguém pode vê-los quando eles choram
She maybe the love that cannot hope to last / Ela pode ser o amor que não há esperança de durar
May come to me from shadows of the past. / Pode vir até mim de sombras do passado
That I'll remember till the day I die / Que lembrarei até o dia que eu morrer

She / Ela
Maybe the reason I survive / Pode ser a razão pela qual sobrevivo
The why and wherefore I'm alive / O porque e o motivo de eu estar vivo
The one I'll care for through the rough and ready years / Aquela que cuidarei pelos anos difíceis que virão.
Me I'll take her laughter and her tears / Eu pegarei seu sorriso e suas lágrimas
And make them all my souvenirs / E transformarei todos em meus souvenirs
For where she goes I've got to be / Para onde ela for, eu tenho que estar
The meaning of my life is / O significado da minha vida é ela

She, she, she / Ela, Ela, Ela

Trilha sonora de "Notting Hill"

8 de maio de 2011

Máximas 1


Não sou ninguém importante, apenas um homem comum, com pensamentos comuns. Eu levo uma vida comum. Nenhum monumento dedicado a mim. Meu nome logo será esquecido. Mas em um aspecto, eu tenho sucesso. Amo alguém de coração e alma. E isso sempre foi o bastante pra mim.

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Eu não sei tudo, sei apenas um pouco sobre quase nada, mas de uma coisa eu tenho certeza e é do que eu sinto por você, do que eu sinto quando seu sorriso ilumina a mais escura noite, do que eu sinto ao mirar seus olhos de ébano e me afogar neles, do que sinto quando o som da tua voz chega aos meus ouvidos e me faz pensar que nada mais belo poderia ser ouvido debaixo dos céus.

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Só te esquecerei quando o véu da morte cobrir meu rosto. Mas mesmo assim nascerá em meu túmulo uma linda roseira em cujas pétalas estarão escritas com gotas de sangue as letras de teu nome indicando que jamais te esquecerei.

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Nesse momento existem quase 7 bilhões de pessoas no mundo, algumas estão fugindo assustadas, algumas estão voltando pra casa. Algumas dizem mentiras pra suportar o dia, outras estão enfrentando a verdade. Alguns são maus indo contra o bem, e alguns são bons lutando contra o mal. Sete bilhões de pessoas no mundo, sete bilhões de almas... E eu só preciso de uma: VOCÊ!!!

6 de maio de 2011

Poema da Noite


Narração do Poema da Noite

Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar,
mas também já decepcionei alguém.

Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.

Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
quebrei a cara muitas vezes!

Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).

Mas vivi, e ainda vivo!
Não passo pela vida…
E você também não deveria passar!
VIVA!

Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é muito pra ser insignificante.

Charles Chaplin


5 de maio de 2011

O que é amar


Amar é ter-se a alma entregue ao abandono,
Sendo ao mais torpe ser nocivo comparado;
É não ter noites, nem repouso, nem ter sono
E mesmo assim não desistir de ser amado.

É renunciar as armadilhas da vaidade,
Da qual se adquire a honra popular.
Tornar-se até um monstro infame na cidade
E mesmo assim o ser amado não deixar.

Amar é ter achado a fé que se perdeu
E ingenuamente acreditar que se ascendeu
Na escuridão das incertezas uma chama!

E mesmo que se lute contra correntezas,
Não se tem medo de castigos e surpresas.
Assim é a alma humana de quem ama!

4 de maio de 2011

Creia em mim


Se te digo que o sol entrou pela janela
Com teus raios bejou-me a face,
E com os meus sentimentos adormecidos
Vivi meus desejos,
TU ACREDITAS!

Se te digo que, os fulgurantes cristais
De uma triste tarde de chuva
Sobe-me nos lábios súplicas de amor
A prolongar amores,
TU ACREDITAS!

Se te digo que no golfo
De uma fonte pura e cristalina
Falo dos meus sonhos, meus anseios e meus desejos
E ela me compreende,
TU ACREDITAS!

Mas, se te digo, num olhar mudo
Num olhar que não mente jamais
Vindo de um coração que sente e não fala
Tudo o que sinto por ti,
TU NÃO ACREDITAS!

E se te digo, em vez do silêncio tímido,
A palavra num soluço suspenso e atroz
Que chorará dentro de mim a voz: "Eu te amo"...
TU NÃO ME ACREDITAS!
E vai embora...

2 de maio de 2011

Docemente Misteriosa


Há um mistério quando às vezes nos olhamos.
Em mim o desejo de saber teu pensamento
E descobrir o que existe no momento
Em que casualmente nós nos encontramos.

Te vejo bela, tão bonita, silenciosa...
Daria tudo para ver o que imaginas.
O que lá dentro do teu coração maquinas?
Por que insistes em ser tão misteriosa?

Há algum tempo teu olhar me cativou.
Meu coração pelo teu se enamorou
E desde então vivo a fugir de te encontrar...

Pois tenho medo dos amores impossíveis
E sei que as dores da paixão são mais terríveis
Do que a dor de simplesmente não te olhar.